“Palavra presa” levará ao cinema projeto que reduz penas através da leitura no cárcere - Imprensa - Poder Judiciário de Santa Catarina
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O trabalho de incentivo à leitura para quem está atrás das grades, adotado com sucesso no sistema carcerário de Joinville, vai ganhar as telas de cinema. Com o título provisório “Palavra Presa”, esta será a segunda obra da cineasta Ilaine Melo.
Em 2019 ela já produziu o curta-metragem “Licença Poética”, referente ao mesmo tema. Naquela trama, o escritor Marçal Aquino encontrava-se com o leitor de um de seus livros que cumpria pena na Penitenciária da cidade. Agora, no longa-metragem, o tema avançará, e o Juiz da Vara de Execuções Penais João Marcos Buch será um personagem de destaque no filme.
“É algo novo para mim e a confiança nos cineastas é fundamental para que eu fique mais seguro em colaborar. A base ética, eu diria, é essencial e ela está presente. E, certamente, o tema abordado, que envolve leitura e redação de cartas por parte dos presos, fará com que o registro histórico seja feito, agora por meio da sétima arte”, destaca o magistrado.
Em fase de produção, até o momento a equipe já contabiliza um longo material de pesquisa com a leitura de mais de 400 resenhas, cerca de 30 horas de material captado em vídeo com som direto e entrevistas com diretores das unidades, agentes prisionais, detentos, professores e o magistrado.
“A cela representa o ponto máximo de exclusão social, a marca indelével de segregação legal do indivíduo ao longo de sua história. No entanto, como tipo de contrapeso, a literatura não exclui nenhum indivíduo, promovendo sua incursão no mundo literário a partir de qualquer espaço. Ações como a remição de pena por leitura, podem promover aos presos um efetivo processo de ressocialização articulado a eficazes políticas públicas voltadas a situação social desses brasileiros”, explica a cineasta sobre o que a fascina no tema.
Ilane enfatiza que objetiva demonstrar qual o impacto que a leitura provoca na visão do encarcerado e o que mudou para o apenado a partir do momento que surgiu a leitura em seu cotidiano. “Para ter esclarecidas essas questões é fundamental ouvir. Ainda estamos construindo o roteiro final, mas não queremos que seja um documentário clássico de entrevistas, eis o desafio. Mas com certeza queremos uma pluralidade nestas vozes, do juiz ao detento”, destaca Ilana.
O magistrado foi convidado a integrar o projeto, devido ao afinco trabalho de anos com os apenados no sentido da ressocialização, e a educação por meio da leitura é um caminho. O juiz realiza vistorias periódicas nas unidades prisionais, e nestas ocasiões ouve e também leva em mãos as necessidades dos presos para analisar.
“Cada vez que faço inspeção no Presídio e na Penitenciária, e isso ocorre várias vezes por mês, retorno ao Fórum com mais de 150 pedidos, feitos por cartas, bilhetes e formulários. Fora as entregues diretamente no Fórum por familiares. A Lei de Execução Penal permite que o apenado ou familiar dirija-se diretamente ao juiz da execução penal e esse direito tem sido bem exercido em Joinville”, ressalta Buch.
O juiz enfatiza que é fácil perceber, pelos manuscritos recebidos, a diferença que a leitura faz na vida do apenado. “Quando quem pede é um detento afeito à leitura, é nítida a escrita mais clara, correta e objetiva. Isso resulta da educação, desta feita por meio da literatura”, garante. E essa visão estará presente nas telas, em breve.
Conteúdo: Assessoria de Imprensa/NCI
Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445(JP)