Voltar Povos indígenas seguem luta por espaços sagrados que ainda restam neste 19 de abril

Em Santa Catarina, a Lei Maria da Penha já está em tradução para as línguas Guarani, Kaingang e Xokleng. Idealizada pela Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica (Cevid), em parceria com o Conselho Estadual dos Povos Indígenas (CEPIn), Ministério Público e Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul, a ação faz parte de um projeto que tem o objetivo de promover o acesso dos povos indígenas a informações sobre o direito das mulheres de viver em ambientes sem violência.

Todas as etapas da iniciativa foram realizadas de forma dialógica e coletiva com as mulheres indígenas. Para marcar o dia 19 de abril, a Cevid e o Núcleo de Comunicação Institucional (NCI) conversaram com o professor Davi Timóteo Martins Werá, indígena Guarani, diretor da escola básica Taguató; e com a professora bilíngue Sandra de Paula Santos, indígena Kaingang, presidente do Cepin/SC. A seguir, alguns trechos das entrevistas.

 

Entrevista com Davi Timóteo Martins Werá

Davi Timóteo Martins Werá.
 

Hoje é o Dia dos Povos Indígenas, até pouco tempo atrás chamado de Dia do Índio. É uma data para comemorar?

A maioria dos povos indígenas não trata como um dia de comemoração. Para nós, a data está mais ligada à reflexão do massacre que houve no Brasil. Ela serve de mobilização, durante todo o mês, para lembrar que há indígenas no país, para reforçar nossa luta pelas demarcações das nossas terras, para lutar pelos espaços sagrados que ainda restam, para discutir, de forma educativa, a discriminação e o preconceito que ainda ocorrem nos tempos de hoje.

Estas ações são feitas, principalmente, fora da aldeia. Há ações dentro da aldeia?

Sim, são feitas semanas culturais, por meio de palestras com intelectuais indígenas, sábios das aldeias, mostras de feiras artesanais, danças, cantos. A gente convida os diretores das escolas não indígenas para que levem seus alunos a observar como é a vida e os costumes dos povos indígenas.

Ainda há muito preconceito. O que é necessário para combatê-lo?

A educação. Ela é uma arma forte contra a discriminação, o preconceito e os estereótipos relacionados aos indígenas. A esperança que nós temos está na educação, nos jovens que hoje buscam a verdade e, claro, nos próprios jovens indígenas. Jovens que almejam uma educação escolar onde possam contribuir com novos pensares e novos diálogos com outros jovens da sociedade.

 

Entrevista com Sandra de Paula Santos

Sandra de Paula Santos.
 

 Qual é a importância do Dia dos Povos Indígenas?

É momento para celebrar a existência dos poucos que restaram, para reforçar nossa luta diária pela demarcação dos nossos territórios. Para celebrar a Terra, a nossa mãe, é ela quem nos deu a vida, nos sustenta, e não devemos jamais permitir que a matem.

Qual é o primeiro passo para quem quer conhecer mais sobre os povos originários?

Primeira coisa, visite uma comunidade indígena. Em seguida, visite uma escola indígena, converse com um indígena. Ninguém melhor do que nós para relatar como é a nossa cultura e as nossas práticas diárias.

O que você pode dizer para quem está lendo esta entrevista?

Não reforce estereótipos, não use nossas vestimentas como fantasia. Não vivemos só da pesca e da caça, somos um povo que mantém as tradições, mas que acompanha o desenvolvimento social. Não somos estáticos. Eu posso ser tudo o que você é, sem deixar de ser quem eu sou: Kaingang!

Imagens: Divulgação/Arquivo Pessoal
Conteúdo: Assessoria de Imprensa/NCI
Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445(JP)

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